segunda-feira, 6 de março de 2006

"A Rainha Refresca-se"


A água é, desde o início da humanidade, determinante para o desenvolvimento das civilizações. No Império Romano, com a existência de termas em quase todas as cidades do Império, era até um pretexto para o lazer. Contudo, esta tradição perde-se durante a ocupação árabe da Península Ibérica.
Embora há muito se tentasse fazer chegar água potável a Lisboa, é preciso esperar pelo ouro e diamantes do Brasil com toda a opulência e exuberância que eles propiciam tanto na corte como nas obras patrocionadas para que o projecto seja efectivamente levado a cabo.
É no século XVIII, durante o reinado de D.João V, que se torna impreterível a melhoria da rede de distribuição de água na cidade de Lisboa. Neste contexto nasce o Aqueduto das Águas Livres.

Entrar no aqueduto provoca um arrepio: de frio e de pequenez. Na penumbra dos corredores transformamo-nos numa gota de água que pela atração natural a que as gotas de água são sujeitas, se junta a tantas outras gotas de água que vêm de uma qualquer nascente e que viajam pelos canais do aqueduto e aceleramos e abrandamos o passo guiados pelas outras gotas de água como pela corrente sendo comandados.
Mas algures durante a viagem é-nos permitido voltar a ser pessoas. Talvez quando encontramos as lavadeiras que nos oferecem bolo e limonada (em copos de plástico, no século XVII?!) ou quando na Mãe de Água Velha, D. Carlota Joaquina, a rainha que mais fez uso dos espaços do aqueduto, acompanhada pelo seu aio faz uma aparição estranhando toda aquela gente ali presente e que, para mais, não demonstra o devido respeito na presença de um membro da realeza.
Finalmente, à chegada ao Vale de Alcântara, à Diogo Alves quem nos interpela. Em vez da cordialidade da rainha é a sede de dinheiro do ladrão e assassino do século XVIII que nos ataca.

O percurso A Rainha Refresca-se leva o visitante pelo espírito do periodo Barroco, com toda a sua intensidade e imperfeições.

1 comentário:

Anónimo disse...

Foram impostos que pagaram o aqueduto e metam isto na cabeça de uma vez por todas.
Não foi feito por questões de necessidades primárias das populações mas, por necessidade politica do próprio rei que se encontra a braços com problemas de
carácter social: insubordinação de nobres, quebras de disciplina conventual, conflitos de trabalho, intensificação do ódio ao judeu, para além dos problemas com o Brasil e Oriente.
Já na época de D. João V havia um sistema de distribuição pública de água em Alfama, será por ter sido um bairro essencialmente de árabes?
Relativamente à vida se desenvolver directamente ligada à água e todas as civilizações terem nascido, prosperado e morrido por ela é um dado adquirido que não poderá ser contestado.
Lembro só para lembrar que em termos de uso fruto da água não terá sido a civilização romana a pioneira, mas isto seria recuar muito no tempo, nem foi com os árabes que se perderam as tradições na Ibéria, muito antes pelo contrário.