Convento da Arrábida em Livro
O Convento dos Capuchos na Serra da Arrábida (Setúbal) surge como uma "aldeia plantada a meia encosta", na opinião do historiador Paulo Pereira, que hoje apresenta um livro sobre aquele monumento franciscano.
"O convento da Arrábida, absolutamente despojado, é um dos raros testemunhos da arquitectura franciscana, depois da reforma da ordem religiosa em 1540. O outro exemplar situa-se no topo da Serra da Sintra", disse o autor.
O livro, intitulado "Convento da Arrábida - Portas do céu", é editado pela Fundação Oriente.
Trata-se de uma monografia histórica, com fotografias de Paula Benito, que traça a história do convento, alvo de "pequenas alterações ao longo dos tempos" e que "está muito bem conservado".
O investigador definiu o Convento como "polinuclear, na medida em que a área cercada foi tendo pequenas construções de índole religiosa e a ele ligadas, parecendo uma aldeia plantada a meia encosta, cujos horizontes são verdadeiramente místicos".

Este "despojamento", na opinião de Paulo Pereira, facilita a sua manutenção, "o que também foi essencial para a ordem, relativamente pobre, pois todos os matérias estão ali à mão, isto é, são da região".
Ainda segundo o investigador, este convento "é um exemplar claro da arquitectura popular saloia".
O livro procura também fazer a ligação entre este tipo de arquitectura sacra e "uma certa ambiência religiosa e espiritual que ali se viveu".
Localizado numa zona de invulgar beleza natural, perto de Lisboa mas simultaneamente longe do bulício da grande cidade, o Convento da Arrábida reúne todas as condições para o estudo e reflexão, para o debate de temas e ideias, para a realização, enfim, das mais diversas actividades culturais e científicas.
Foi essa, aliás, uma das principais motivações da Fundação Oriente ao adquirir em 1990 o convento ao então proprietário, Manuel de Souza Holstein Beck, conde da Póvoa.

Inserido no Parque Natural da Arrábida, conhecido pelas suas raras espécies botânicas, goza de um clima temperado, de características mediterrânicas.
Dado o carácter único de testemunho histórico, arquitectónico e paisagístico do convento e da serra da Arrábida, a Fundação Oriente fez questão de conservar os valores existentes, aproveitando e mantendo a atmosfera de recolhimento e de reflexão que foi apanágio dos franciscanos e que o local inequivocamente sugere e proporciona.
No projecto de recuperação e adaptação a centro cultural, procurou-se, acima de tudo, manter o espírito do lugar e respeitar a construção existente.
Refira-se, a propósito, que o convento, com a respectiva área circundante, foi classificado em 1977 imóvel de interesse público.
Aproveitaram-se, pois, as chamadas Casa do Conde e Casa das Mesquitas, que se situam a nascente do convento e que foram ampliadas.
No núcleo central, as construções existentes foram integralmente mantidas.
No núcleo poente, apenas o interior da chamada Casa dos Noivos foi alterado e adaptado a um auditório.
Quatro Séculos de História O Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange ao longo dos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus e ainda, adjacentes ao convento, mas autónomos, os aposentos do duque de Aveiro e as casas onde eram alojados os peregrinos.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão de Cristo e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.
O Convento Novo, o edifício principal a meio da encosta, dispõe de 27 celas, igreja, seis capelas, livraria, refeitório, cozinha, torre de relógio, casa de lavagem e vários fontanários.
A água das fontes continua a ser captada em minas, segundo o sistema hidráulico implantado pelos franciscanos.
O Convento foi fundado em 1542 por Frei Martinho de Santa Maria, franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de Aveiro, cedeu as terras.
Anterior à construção, existia onde é hoje o Convento Velho, a Ermida da Memória, local de grandes romarias, junto da qual, durante dois anos, viveram, em celas escavadas nas rochas, os primeiros quatro religiosos arrábidos: Frei Martinho de Santa Maria, Frei Diogo de Lisboa, Frei Francisco Pedraita e São Pedro de Âlcantara.
De arquitectura austera, o convento é praticamente desprovido de ornamentos.
No seu interior, destacam-se apenas, de onde em onde, esculturas de santos e Cristos, de terracota e de madeira, colocadas em nichos, os azulejos que ornam as capelas, e ainda os embrechados compostos de pedrinhas misturadas com conchas e cacos de faiança e usados na decoração de fontes, paredes, muros e capelas.
Assinalem-se ainda peças escultóricas de cerâmica e de madeira, cantarias e lajedos, tectos pintados e uma talha dourada.
D. Jorge de Lencastre, filho do 1º duque de Aveiro, continuou as obras mandando construir uma cerca para vedar a área do convento. Mais tarde, seu primo D. Álvaro, mandou edificar a hospedaria que lhe servia de alojamento e projectou as guaritas, na crista do monte, que ligam o convento ao sopé da montanha, deixando, no entanto, três por acabar.
Por sua vez, D. Ana Manique de Lara, viúva do duque de Torres Novas e nora de D. Álvaro, mandou construir duas capelas, enquanto o filho de D. Álvaro, D. António de Lencastre, mandou edificar, em 1650, o Santuário do Bom Jesus.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento, as celas e as capelas dispersas pela serrania sofreram várias pilhagens e enormes estragos causados pelo abandono.
Em 1863, a Casa de Palmela adquiriu o convento mas as obras só começaram no século seguinte, nas décadas de 40 e 50.
Quarenta anos depois, em 1990, o seu então proprietário optou por vender o convento e a área envolvente, num total de 25 hectares, à Fundação Oriente, a única instituição, que, em seu entender, dava garantias de manter os mesmos valores com que, no século XVI, os seus antepassados o entregaram aos arrábidos.
O convento está integrado na Rede de Centros Culturais Europeus implantados em locais históricos.
São conhecidos os relatos de visões e experiências místicas dos monges, devidas, segundo o investigador, "não só a uma alimentação peculiar constituída por determinadas ervas e muitos jejuns, como até à estreiteza arquitectural, onde há um condicionamento da corporalidade".
Um dos mais conhecidos habitantes deste convento foi o monge espanhol São Pedro de Alcântara, que, de acordo com relatos da época, ali levitou e teve várias visões míticas.
Paulo Pereira é licenciado em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa e autor de diversos livros, incluindo uma "História de Arte de Portugal" e "Lugares mágicos de Portugal", além de vasta bibliografia científica.
São conhecidos os relatos de visões e experiências místicas dos monges, devidas, segundo o investigador, "não só a uma alimentação peculiar constituída por determinadas ervas e muitos jejuns, como até à estreiteza arquitectural, onde há um condicionamento da corporalidade".
Um dos mais conhecidos habitantes deste convento foi o monge espanhol São Pedro de Alcântara, que, de acordo com relatos da época, ali levitou e teve várias visões míticas.
Paulo Pereira é licenciado em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa e autor de diversos livros, incluindo uma "História de Arte de Portugal" e "Lugares mágicos de Portugal", além de vasta bibliografia científica.

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