sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Convento da Arrábida em Livro


O Convento dos Capuchos na Serra da Arrábida (Setúbal) surge como uma "aldeia plantada a meia encosta", na opinião do historiador Paulo Pereira, que hoje apresenta um livro sobre aquele monumento franciscano.

"O convento da Arrábida, absolutamente despojado, é um dos raros testemunhos da arquitectura franciscana, depois da reforma da ordem religiosa em 1540. O outro exemplar situa-se no topo da Serra da Sintra", disse o autor.

O livro, intitulado "Convento da Arrábida - Portas do céu", é editado pela Fundação Oriente.

Trata-se de uma monografia histórica, com fotografias de Paula Benito, que traça a história do convento, alvo de "pequenas alterações ao longo dos tempos" e que "está muito bem conservado".

O investigador definiu o Convento como "polinuclear, na medida em que a área cercada foi tendo pequenas construções de índole religiosa e a ele ligadas, parecendo uma aldeia plantada a meia encosta, cujos horizontes são verdadeiramente místicos".

O Convento da Arrábida, descreveu, "é um edifício naturalmente pobre, de uma pureza radical, despojado de ornamentos que não sejam os embrechados [embutidos] de conchas e pedrinhas".

Este "despojamento", na opinião de Paulo Pereira, facilita a sua manutenção, "o que também foi essencial para a ordem, relativamente pobre, pois todos os matérias estão ali à mão, isto é, são da região".

Ainda segundo o investigador, este convento "é um exemplar claro da arquitectura popular saloia".

O livro procura também fazer a ligação entre este tipo de arquitectura sacra e "uma certa ambiência religiosa e espiritual que ali se viveu".

Localizado numa zona de invulgar beleza natural, perto de Lisboa mas simultaneamente longe do bulício da grande cidade, o Convento da Arrábida reúne todas as condições para o estudo e reflexão, para o debate de temas e ideias, para a realização, enfim, das mais diversas actividades culturais e científicas.

Foi essa, aliás, uma das principais motivações da Fundação Oriente ao adquirir em 1990 o convento ao então proprietário, Manuel de Souza Holstein Beck, conde da Póvoa.
Edificado na vertente sul, a meio da encosta da serra da Arrábida, como que metido numa concha, o convento debruça-se sobre o mar, num lugar privilegiado de grande tranquilidade, de contacto com a natureza e de uma excepcional beleza paisagística.

Inserido no Parque Natural da Arrábida, conhecido pelas suas raras espécies botânicas, goza de um clima temperado, de características mediterrânicas.

Dado o carácter único de testemunho histórico, arquitectónico e paisagístico do convento e da serra da Arrábida, a Fundação Oriente fez questão de conservar os valores existentes, aproveitando e mantendo a atmosfera de recolhimento e de reflexão que foi apanágio dos franciscanos e que o local inequivocamente sugere e proporciona.

No projecto de recuperação e adaptação a centro cultural, procurou-se, acima de tudo, manter o espírito do lugar e respeitar a construção existente.

Refira-se, a propósito, que o convento, com a respectiva área circundante, foi classificado em 1977 imóvel de interesse público.
Aproveitaram-se, pois, as chamadas Casa do Conde e Casa das Mesquitas, que se situam a nascente do convento e que foram ampliadas.

No núcleo central, as construções existentes foram integralmente mantidas.

No núcleo poente, apenas o interior da chamada Casa dos Noivos foi alterado e adaptado a um auditório.
Quatro Séculos de História O Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange ao longo dos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus e ainda, adjacentes ao convento, mas autónomos, os aposentos do duque de Aveiro e as casas onde eram alojados os peregrinos.

No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão de Cristo e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.

O Convento Novo, o edifício principal a meio da encosta, dispõe de 27 celas, igreja, seis capelas, livraria, refeitório, cozinha, torre de relógio, casa de lavagem e vários fontanários.

A água das fontes continua a ser captada em minas, segundo o sistema hidráulico implantado pelos franciscanos.

O Convento foi fundado em 1542 por Frei Martinho de Santa Maria, franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de Aveiro, cedeu as terras.

Anterior à construção, existia onde é hoje o Convento Velho, a Ermida da Memória, local de grandes romarias, junto da qual, durante dois anos, viveram, em celas escavadas nas rochas, os primeiros quatro religiosos arrábidos: Frei Martinho de Santa Maria, Frei Diogo de Lisboa, Frei Francisco Pedraita e São Pedro de Âlcantara.

De arquitectura austera, o convento é praticamente desprovido de ornamentos.
No seu interior, destacam-se apenas, de onde em onde, esculturas de santos e Cristos, de terracota e de madeira, colocadas em nichos, os azulejos que ornam as capelas, e ainda os embrechados compostos de pedrinhas misturadas com conchas e cacos de faiança e usados na decoração de fontes, paredes, muros e capelas.

Assinalem-se ainda peças escultóricas de cerâmica e de madeira, cantarias e lajedos, tectos pintados e uma talha dourada.

D. Jorge de Lencastre, filho do 1º duque de Aveiro, continuou as obras mandando construir uma cerca para vedar a área do convento. Mais tarde, seu primo D. Álvaro, mandou edificar a hospedaria que lhe servia de alojamento e projectou as guaritas, na crista do monte, que ligam o convento ao sopé da montanha, deixando, no entanto, três por acabar.

Por sua vez, D. Ana Manique de Lara, viúva do duque de Torres Novas e nora de D. Álvaro, mandou construir duas capelas, enquanto o filho de D. Álvaro, D. António de Lencastre, mandou edificar, em 1650, o Santuário do Bom Jesus.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento, as celas e as capelas dispersas pela serrania sofreram várias pilhagens e enormes estragos causados pelo abandono.

Em 1863, a Casa de Palmela adquiriu o convento mas as obras só começaram no século seguinte, nas décadas de 40 e 50.

Quarenta anos depois, em 1990, o seu então proprietário optou por vender o convento e a área envolvente, num total de 25 hectares, à Fundação Oriente, a única instituição, que, em seu entender, dava garantias de manter os mesmos valores com que, no século XVI, os seus antepassados o entregaram aos arrábidos.

O convento está integrado na Rede de Centros Culturais Europeus implantados em locais históricos.

São conhecidos os relatos de visões e experiências místicas dos monges, devidas, segundo o investigador, "não só a uma alimentação peculiar constituída por determinadas ervas e muitos jejuns, como até à estreiteza arquitectural, onde há um condicionamento da corporalidade".

Um dos mais conhecidos habitantes deste convento foi o monge espanhol São Pedro de Alcântara, que, de acordo com relatos da época, ali levitou e teve várias visões míticas.

Paulo Pereira é licenciado em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa e autor de diversos livros, incluindo uma "História de Arte de Portugal" e "Lugares mágicos de Portugal", além de vasta bibliografia científica.

São conhecidos os relatos de visões e experiências místicas dos monges, devidas, segundo o investigador, "não só a uma alimentação peculiar constituída por determinadas ervas e muitos jejuns, como até à estreiteza arquitectural, onde há um condicionamento da corporalidade".
Um dos mais conhecidos habitantes deste convento foi o monge espanhol São Pedro de Alcântara, que, de acordo com relatos da época, ali levitou e teve várias visões míticas.
Paulo Pereira é licenciado em História de Arte pela Faculdade de Letras de Lisboa e autor de diversos livros, incluindo uma "História de Arte de Portugal" e "Lugares mágicos de Portugal", além de vasta bibliografia científica.




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