sábado, 16 de dezembro de 2006

Mário Cláudio e o seu " Camilo Broca"

"Camilo Castelo Branco foi um grande mentiroso..."


"Ler "Camilo Broca" é encontrarmo-nos com um lugar cimeiro da literatura.
Nada falta a esta obra do que é essencial."

Foi desta forma que o presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), José Manuel Mendes, apresentou, nesta quinta-feira, o último romance do escritor Mário Cláudio, no Centro de Estudos Camilianos, em Vila Nova de Famalicão.

O momento, de grande simbologia para o autor, dado ter decorrido na nova Casa de Camilo, projectada pelo arquitecto Siza Vieira, contou com as presenças do presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Armindo Costa, e do próprio escritor, Mário Cláudio.

A José Manuel Mendes coube a apresentação da obra, que, logo à partida, disse que não iria "contar o romance, nem tão-pouco desvendar o mistério de que se Camilo Broca é ou não Camilo Castelo Branco". E aguçando ainda mais a curiosidade do público presente referiu que a personagem principal do romance, "tanto pode ser Camilo Castelo Branco, como não", atirando que "Camilo Castelo Branco é em si mesmo indesvendável".

Também Armindo Costa considerou este episódio "um mistério cuja descoberta o autor prefere deixar para a opção de cada leitor, o que também podemos entender como um exercício de tolerância e de incentivo à criatividade que muito valoriza esta obra".
"Camilo Broca reúne um conjunto de traços que afirmam Mário Cláudio como um ficcionista inconfundível".
"A modelação das personagens; a reconstituição de épocas com uma enorme precisão; o esplendor de uma prosa que não se verga à voga que parece ter tomado conta da nossa praça", foram apenas algumas das características lisonjeiras apontadas pelo presidente da APE ao romance.
Citando o poeta Miguel Torga, José Manuel Mendes confessou que enquanto lia "Camilo Broca" sentiu "o coice da literatura", isto é, "um momento em que o livro nos toca". E acrescentou: "Sinto isto de cada vez que leio Mário Cláudio, não só o ficcionista, mas também o poeta, o autor, o ensaísta".
A terminar José Manuel Mendes disse ainda que "Camilo Broca é uma obra que pode ser interpretada de várias formas por cada leitor", deixando no ar a questão: "E se este Camilo fosse cada um de nós?"
E se o público ainda tinha esperanças que Mário Cláudio revelasse a verdadeira identidade deste "Camilo Broca", certamente que ficou muito desiludido quando o autor afirmou:
"Não sei se este escritor é ou não Camilo Castelo Branco. Podia ser qualquer outro, mas teria que ser inevitavelmente português".

Na sua breve intervenção, o autor salientou a sua ligação a Camilo Castelo Branco, explicando que "desde criança que visitava assiduamente a Casa-Museu em Seide S. Miguel", ficando na altura "muito desiludido com o estado de degradação do edifício e dos objectos pertencentes ao escritor", referindo que o "Centro de Estudos Camilianos é um espaço que dignifica Camilo".
"O respeito que tenho por Camilo Castelo Branco é aquele que tenho pela verdade e pela mentira", disse, afirmando que "sem mentira, não há literatura, não há escritor, não há poesia". E neste âmbito, "Camilo Castelo Branco foi um grande mentiroso".

ARMINDO COSTA ELOGIOU O ESCRITOR CAMILIANISTA


Visivelmente satisfeito pela presença de Mário Cláudio em Famalicão, o presidente da Câmara Municipal disse que "o livro "Camilo Broca" é um bom regresso do escritor a esta casa, à ancestralidade de Camilo e à forma como ele via os seus antepassados, sobretudo agora, que este espaço de criação literária acaba de ser enriquecido com a modernidade deste Centro de Estudos Camilianos".
Armindo considerou Mário Cláudio "um amigo de Camilo e um amigo de Famalicão", tanto mais que, em 1990, por proposta do Governo então liderado pelo prof. Cavaco Silva, foi a personalidade escolhida para presidir à Comissão Nacional do Centenário da Morte de Camilo Castelo Branco.
Revelando a admiração que tem pelo autor, Armindo Costa realçou que "sendo um escritor do Porto, que vive no Porto, Mário Cláudio é um maratonista da literatura portuguesa, que soube derrubar as capelinhas culturais de Lisboa, conseguindo ver a sua obra reconhecida pela crítica especializada".

O autarca famalicense aproveitou ainda para referir que a sua presença na sessão de apresentação do livro "simboliza o empenho da Câmara Municipal no seu papel de agente defensor dos bens culturais e de promotor da cultura, tendo na figura de Camilo um dos vectores estratégicos do nosso trabalho quotidiano". E acrescentou "Um trabalho que resulta de uma opção consciente pela Cultura, investindo na preservação do património, na criação de infra-estruturas e na dinamização dos equipamentos culturais, fornecendo condições para a formação e o lazer das pessoas".
Referindo-se ao espaço onde o livro foi apresentado - o novo Centro de Estudos camilianos, projectado por Siza Vieira, em frenteà Casa-Museu de Seide -, Armindo Costa afirmou que o novo centro cultural "representa uma nova atitude perante a cultura lusófona e a língua portuguesa e constitui um novo factor de competitividade e de projecção cultural e turística do Município". E lembrou: "Famalicão, que começou há 800 anos como um centro de trocas comerciais, é hoje um grande centro da iniciativa empresarial e do trabalho, mas também é uma cidade das artes e da cultura."

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