sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Ella de Herbert Achternbusch no CCB


“ELLA”
de Herbert Achternbusch.
Estreia realizada em 11 de Novembro de 2005, no Teatro Nacional São João.*
Por Teatro da Rainha


“No palco há uma gaiola.
Uma capoeira que fecha à frente com uma rede de arame.

Ao fundo, em poleiros, estão pousadas híbridas brancas.

Do lado direito, ao comprimento, há uma cama.

No meio uma mesa, um grande despertador, dos baratos, faz tic-tac com um som metálico. Sacas de café, um moinho de café eléctrico, uma cafeteira e uma chávena grande.

Um fogareiro com uma panela cheia de água.

Uma caixa com um rótulo que indica claramente conter veneno.

Em primeiro plano, um degrau mais abaixo e à sombra, está sentada Ella a olhar para um televisor que transmite a programação do dia.

Fora da Gaiola não há qualquer luz.

José é o filho.

Traz uma peruca de penas de galinha feita por ele mesmo e traz vestida uma bata.

Não deixa qualquer dúvida de que ele é a mãe.

Está permanentemente às voltas com os utensílios do café.

Oferece o café, quando pronto, a si próprio, a Ella e ao público.

Por fim embebe um quadradinho de açúcar em cianeto de potássio e mexe, mexe, bebe e cai para o lado com um grande estrondo.

O estrondo espanta Ella, que, à vista do morto, se vai abaixo, grita, e, aos gritos, rasga a bata e corre nua pela gaiola até a luz se apagar.

Ella é a mãe.”


Construído a partir da memória pessoal da barbárie nazi, o texto do dramaturgo alemão Herbert Achternbusch (1938) procura também desafiar o que resta de nós, no quadro do pragmatismo economicista dos novos tempos.


Em palco juntam-se actores e público.

É um espectáculo marcadamente intimista, em que Fernando Mora Ramos é Joseph, filho de Ella (representada por Clara Joana), mulher a quem a vida negou um resto de esperança ou humanidade.
Dramaturgo e cineasta, Herbert Achternbusch reflecte nos seus trabalhos a influência da Baviera, região rural conservadora e profundamente religiosa, onde cresceu e ainda vive.

Os seus textos para teatro foram escritos sob a forma de monólogos autobiográficos.

Ficha Artística/Técnica


Tradução: Idalina Aguiar de Melo
Encenação: Fernando Mora Ramos
Dramaturgia e direcção de ensaios: Isabel Lopes
Cenografia: José Carlos Faria
Iluminação: Fernando Mora Ramos e António Plácido
Interpretação: Clara Joana e Fernando Mora Ramos
Direcção Técnica: António Plácido
Direcção de Produção: Ana Pereira


* Texto apresentado pela 1ª vez em Portugal em 1993

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