Estreia mundial de Emmanuel Nunes na Glubenkian
Estreia no próximo dia 18 pelas 19.00h, no Grande Auditório da Glubenkian, Remix Ensemble com Emmanuel Nunes.
REMIX ENSEMBLE
Peter Rundel (direcção)
Pierre Strauch (violoncelo)
Stephanie Wagner (flauta)
Emmanuel Nunes Épures du serpent vert II (Estreia Absoluta)
Luciano Berio Tempi ConcertatiIl ritorno degli snovidenia
O Remix Ensemble, sob a batuta do seu actual maestro titular, Peter Rundel, regressará ao Grande Auditório Gulbenkian no próximo dia 18 de Fevereiro com um programa que reúne obras de Luciano Berio (1925-2003) e de Emmanuel Nunes (1941), dois nomes marcantes da criação musical das últimas décadas.
Em estreia mundial, ouvir-se-á Épures du serpent vert II, excerto da ópera baseada num conto de Goethe em que Nunes está a trabalhar presentemente, cuja estreia terá lugar no TNSC (Teatro Nacional de S. Carlos), na temporada de 2006/2007 .
A segunda parte do programa será exclusivamente dedicada à música de Berio.
Serão escutadas Tempi concertati e Il ritorno degli snovidenia, obras representativas de dois momentos muito diferentes do percurso criativo do compositor italiano.
Tempi concertati foi escrita na década de 50, durante o período mais radical e formalista da vanguarda artística europeia.
Il ritorno degli snovidenia, por seu turno, tem sido considerada um exemplo da nova expressividade surgida a partir de fins da década de 60.
Foi o resultado de uma encomenda de Mstislav Rostropovich, endereçada pouco depois da sua saída da ex-URSS para o exílio.
A propósito desta obra, que incorpora fragmentos de canções revolucionárias russas, Berio disse que era uma “homenagem a um sonho atraiçoado”.
A interpretação da parte solística caberá ao compositor e violoncelista Pierre Strauch, distinguido no Concurso Rostropovich de La Rochelle, em 1977, e membro do Ensemble Intercontemporain.
Emmanuel Nunes inicia os seus estudos em Harmonia, Contraponto e Fuga em 1959 com Francine Benoît, na Academia de Amadores de Música de Lisboa, onde também frequenta as aulas de Louis Saguer sobre Escrita Musical do Século XX, revelando-se estas últimas de extrema importância para o compositor.
Entre 1960 e a sua partida para Paris, em 1964, tem aulas particulares de Composição com Fernando Lopes-Graça, uma vez que sendo membro do Partido Comunista, este havia sido proibido de leccionar pelo Regime Fascista.
Entre 1962 e 1964 frequenta os Cursos de Verão de Darmstadt, onde se interessa sobretudo pelas aulas de Henri Pousseur e Pierre Boulez.
Passa então um ano em Paris, preparando-se para estudar composição com Karlheinz Stockhausen e novamente com Henri Pousseur na Rheinische Musikschule de Colónia de 1965 a 1967.
Regressa a Paris onde volta a trabalhar em solitário até 1970.
Por forma a obter uma bolsa do Ministério de Educação Nacional em Portugal, Emmanuel Nunes inscreve-se nas aulas de Estética de Marcel Beaufils no CNSM (Conservatoire National Supérieur de Musique et de Danse de Paris).
Obtém o seu primeiro prémio em 1971 depois de desenvolver com Michel Guiomar, na Université Sorbonne, uma tese sobre a 2ª Cantata de Anton Webern e a evolução da linguagem musical dessa época, trabalho que deixará inacabado.
De 1974 a 1976, Emmanuel Nunes é responsável pelas aulas de Iniciação à Composição do Séc. XX da Universidade de Pau (em França), destinadas a futuros professores de Educação Musical.
A partir de 1981, dirige seminários de Composição na Fundação Gulbenkian em Lisboa e no ano seguinte é convidado por Ivan Tchérépnine para realizar conferências sobre a sua música na Harvard University.
De 1986 a 1991 desempenha as funções de professor na Escola Superior de Música de Freiburg em Breisgau.
De 1990 a 1994 lecciona Composição e Música de Câmara na Escola Nacional de Música de Romainville e Composição no CNSM (Escola Superior do Conservatório Nacional de Música e Dança de Paris) a partir de 1992.
Em 1985 é convidado por Pierre-Yves Artaud para dar um conjunto de seminários subordinados ao tema "L'attitude instrumentale" no IRCAM (Institut de Recherche et Coordination Acoustique / Musique), que virá a repetir no ano seguinte durante os Ateliers de Verão de Darmstadt.
Em 1995 lecciona na Academia de Verão do IRCAM e novamente em Darmstadt em 2002.
Em 2004, é convidado para realizar uma série de aulas, conferências e concertos na Universidade Católica de Santiago do Chile.
Os primeiros concertos de Emmanuel Nunes têm lugar na Fundação Gulbenkian em Lisboa, nomeadamente Purlieu em 1970 e Dawn Wo em 1971, na sequência dos quais André Jouve o apresenta em "Perspectives du XXème siècle", naqueles que foram os seus primeiros concertos em Paris.
Em 1975, a estreia de Voyage du Corps (para conjunto vocal e electrónica em tempo real) no Festival de Royan, está na génese do seu encontro com Tristan Murail que passa a incluir regularmente Emmanuel Nunes no "L'Itinéraire" até 1980.
A sua notoriedade é reconhecida em 1977 com a ida da Orquestra de Baden Baden a Royan para a estreia de Ruf e a sua repetição no mesmo ano durante Festival de Donaueschingen, sob a direcção de Ernest Bour.
No seguimento destes concertos, é convidado a mudar-se para Berlim por um período de um ano como bolseiro da DAAD (Serviço Alemão de Intercâbio Académico).
É a partir do fim dos anos 70, com a entrada de Luís Pereira Leal como director musical na Fundação Gulbenkian em Lisboa, que a sua obra passa a ser apresentada com regularidade, recebendo diversas encomendas e ainda através de duas retrospectivas de relevo.
Entre 1986 e 1988 e pelas mãos do Ensemble Modern e de Ernest Bour, os concertos de Emmanuel Nunes multiplicam-se por vários países, sobretudo com as obras Wandlungen e Duktus.
1992 é o ano da apresentação de Quodlibet no Coliseu dos Recreios de Lisboa, peça para conjunto vocal, seis percussões e orquestra, que volta a ser tocada cerca de 15 vezes pela Europa.
No mesmo ano, o Festival de Outono em Paris dedica-lhe uma retrospectiva, bem como apresenta vários concertos em 1994 e 1996, com a estreia de Omnia Mutantur Nihil Interit.
Também em 1995 e 1996, são tocadas várias obras do compositor durante o Festival de Edimburgo.
Emmanuel Nunes trabalha com regularidade no IRCAM (Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique) desde 1989, ano em que começa a compor Lichtung I e inicia um percurso de estreita colaboração e pesquisa com Eric Daubresse, que mantém até hoje.
O seu trabalho com o "tempo real" termina em 1992 com a estreia de Lichtung I em Paris e da primeira versão de Lichtung II em 1996; as versões definitivas e integrais das duas peças virão a ser tocadas no ano 2000 em Paris, pelo Ensemble Intercontemporain, dirigido por Jonathan Nott.
No entanto, diversas obras suas têm sido compostas sem recurso a meios informáticos.
Nos anos 90, compõe Musivus e realiza uma nova versão de Nachtmusik II, duas obras para grande orquestra que virão a ser apresentadas respectivamente em 2000 na Filarmónica de Colónia e em 2002 em Donaueschingen.
Duas importantes retrospectivas do compositor são levadas a cabo pelo Festival Ars Música de Bruxelas em 1999 e pelo Festival Tage für Neue Musik de Zurique em 2000.
É também de realçar a estreita colaboração mantida com o Remix Ensemble, desde a criação deste agrupamento portuense.
Presentemente, o compositor tem dois projectos em curso: uma ópera baseada no conto de Goethe Das Märchen; e uma série de peças inspiradas na novela La Douce de Dostoïevsky, que serão reagrupadas para apresentação ao vivo e que formarão uma obra a meio-caminho entre o Teatro e a Ópera de Câmara e em que o protagonismo é dado ao recitante.
Improvisation é o título geral destas peças, sendo que as duas primeiras são estreadas no Festival Wittener Tage em 2003; uma por Christophe Desjardins para viola solo e outra pelo Ensemble Recherche, dirigido por Franck Ollu.
Emmanuel Nunes é Doutor Honoris Causa pela Universidade de Paris VIII desde 1996 e a sua carreira musical tem sido reconhecida por várias entidades, designadamente através do Prémio CIM - UNESCO (Prémio Internacional da Música da Unesco) em 1999 e do Prémio Pessoa em 2000.
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