quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Teresa Magalhães expõe na Galeria Valbom






Pintura é uma imagem.
Pintura é um conceito, um raciocínio, uma ideia.
Pintura é uma linguagem.
Pintura é um sentimento, um desejo.
Pintura é um indivíduo.
Pintura é um país, uma época, um universo.
Pintura é uma aposta.




(Teresa Magalhães )




EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE TERESA MAGALHÃES




3 de Fevereiro a 31 de Março
Galeria Valbom
Morada: Av. Conde Valbom, nº89 - A
1050-067 LISBOA




Inaugura no próximo dia 3 de Fevereiro uma grande exposição de novos trabalhos da pintora Teresa Magalhães.



Na galeria vão estar 44 Pinturas, de pequenos e médios formatos, realizadas entre 2003 e 2006. Os trabalhos foram desenvolvidos sobre tela e sobre papel.



A última exposição da pintora decorreu em 2005 no Salão Nobre da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Ao considerar que na sua pintura estão implícitos a arquitectura, a música, o cinema e a escrita, a pintora convidou para a exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes o arq. Manuel Graça Dias, o musicólogo Rui Vieira Nery, o director de fotografia para o cinema Eduardo Serra e o escritor José Saramago para intervirem com os respectivos comentários que constam do catálogo, juntamente com os textos críticos, no campo das artes plásticas, da pintora Emília Nadal, presidente da S.N.B.A. e do Dr. João Pinharanda.
Eis alguns excertos desses comentários que esclarecem ou ajudam a ver melhor, a obra de Teresa Magalhães:
“(…) No contexto nacional a obra de Teresa Magalhães garante a persistente originalidade de um gestualismo cromático que nega a figura, como nega a linearidade compositiva e a depuração formal.



Mas que permite o estabelecimento de uma grelha intuitiva de organização visual — como que levando-nos a suspeitar termos encontrado a ordem que preside à disposição dos elementos no caos.
Não se trata de um caos primordial nem de um caos terminal.






É a valores de intensa actividade intelectiva, sensível e física que podemos ligar o estádio de cada obra que a artista nos apresenta: pondo em causa tudo o que antes aparecia organizado, deixando tudo como que no momento suspensivo que parece preceder a reorganização do mundo.
É à expressividade e ao barroquismo que podemos associar o trabalho desta artista. Neste sentido ela inscreve-se numa linhagem tradicional que vem da expressão popular e intensa das cores e das formas, na cerâmica ou na tecelagem, e que vem da luxuosa vida das grandes artes decorativas fine-medievais, renascentistas ou setecentistas: incorpora as contribuições orientalistas das cores e das texturas, as evocações de sensuais tecidos e brilhantes joalharias, de agitadas paisagens e fortes odores, da vozearia popular e finas porcelanas, das músicas sofisticadas e simples prazeres de mesa. E não nega uma relação quase coreográfica com escrita que o gesto gere e o olhar apreende, ambos de um modo claramente performativo.(…) “




(João Pinharanda)




“Quando Rimbaud, no seu célebre soneto Voyelles, disse que o A era noir, não disse que era negro, quando disse que o E era blanc, não disse que era branco, quando disse que o I era rouge, não disse que era vermelho, quando disse que o U era vert, não disse que era verde, e quando finalmente disse que o O era bleu, não disse que era azul. Se o som de cada uma delas, pronunciada no francês que ele falava, suscitou no seu espírito a correspondência de uma cor diferente em cada caso, e supondo que em tudo isto houve algo mais que um artifício gratuito ou não foi o mero resultado de uma exigência simplesmente determinada pela métrica do verso, então teremos de concluir que o A dito em português nunca seria negro, nem branco o E, nem vermelho o I, nem azul o O, nem verde o U. Quer isto dizer que nem as vogais têm para toda a gente as cores supostamente sugeridas pelo som que produzem, nem as palavras são, elas próprias, as cores que convencionalmente expressam. Rouge só é vermelho no dicionário, aquelas duas sílabas não dizem o mesmo que estas três. É possível que a maioria dos pintores não perca tempo com dilucidações deste tipo, que mais lhes parecerão pueris exercícios de retórica, mas creio que não me equivocarei demasiado se disser que, para eles, os nomes das cores só têm utilidade na hora de ir comprar as tintas... O que depois se passa é outra coisa.
Penso em tudo isto enquanto contemplo as pinturas de Teresa Magalhães, mas não me detenho a interrogá-las sobre se têm alguma relação, directa ou indirecta, imediata ou evocativa, com as sugestões cromáticas consequentes da pronunciação das cinco vogais em português ou em francês. Pela simples razão de que as cores de Teresa Magalhães, tal como sou capaz de vê-las, ou segundo o que nelas julgo perceber, não têm nome. E mesmo que o tivessem não é isso que me importa. O que me importa, sim, é sentir nelas aquilo a que, provavelmente sem qualquer originalidade, chamarei uma instabilidade contínua do sentido. Contra a evidência material e visual de que, ao mesmo tempo, elas são o que vejo e estão onde as vejo (o francês de Rimbaud não daria para mais que dizer elles sont e elles sont...), afigura-se-me que cada uma destas pinturas foi imobilizada de repente, travada num instante preciso de um processo de transformação sucessiva e multiforme, tal como o caleidoscópio que fazemos girar nas nossas mãos e que, com motivo ou sem ele, abandonámos com uma certa ordenação de formas e cores, até que um novo movimento de rotação venha desordenar a imagem e reordená-la outra vez, para novamente desfazer o que, em potência, será sempre uma ordem ameaçada pela instabilidade. Estou certo de que se pudesse tomar uma destas tábuas nas minhas mãos e a rodasse a um lado ou a outro, outra imagem imediatamente surgiria, as mesmas cores, as mesmas formas, mas uma nova pintura. O mundo como caleidoscópio, o sentido como movimento, eis o que julgo ver na pintura de Teresa Magalhães. É certo que os escritores, em geral, sabem pouco destas coisas, Que a este seja perdoada a intromissão abusiva, é a minha esperança. De todo modo, por muito que isso custe a Rimbaud, o O nunca foi azul... “
( José Saramago )




“A côr. A luz. A luz composta de côres, o arco-iris, o espectro solar.
A difração. A luz decomposta, fragmentada em côres. Vibração.
Agora declinada em espectros desordenados e reorganizados, cada vez recompostos em côres imaginárias.
Espectros improváveis confrontados ao branco, aos vazios da tela, à desordem da curva.
A linha curva que em turbilhões invade o espaço ordenado dos espectros. Tempestade solar.
Massas de côr que existem pela presença aguda dos seus contrários. Harmonia guerreira.
Côr riscada, raspada, matéria ferida que se agarra à tela.
Côr que conquista o espaço da tela sem o ocupar.
Côr que não deixa espaço para o negro, para a noite.
Exaltação da côr.”


(Eduardo Serra )

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