quinta-feira, 27 de abril de 2006

Fundação Mário Soares comemora 25 de Abril

«Liberdade Número 800 250 474» é o nome da exposição de pintura que inaugura hoje pelas 18.30h, da autoria do artista plástico Manuel Carmo, que a Fundação Mário Soares acolhe este ano para comemorar o 25 de Abril.

No total são 18 telas, representando simbolicamente outras tantas ideias e caminhos abertos pela madrugada de 24 para 25 de Abril, inspiradas nos textos dos comunicados e intervenções do Movimento das Forças Armadas (MFA). Na mesma sessão será ainda apresentado um catálogo da exposição, com textos do autor e introdução de Mário Soares.

A exposição de Manuel Carmo com que se assinala a passagem do 32.º aniversário do 25 de Abril de 1974 e, simultaneamente, o início do ciclo comemorativo dos 10 anos de actividade da Fundação Mário Soares, poderá ser visitada nas suas instalações a partir do próximo dia 27 de Abril, nos dias úteis, entre as 14.30 e as 19.00 horas.


Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas...

...Anuncia-se aos portugueses que a sociedade estática e negra do Estado Novo foi substituída por uma sociedade democrática e viva.
Viva Portugal!.

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa. A devolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais.

Neste Quadro, os dois triângulos invertidos a 24, de costas voltadas e a desenharem um caminho impossível de ser continuado, dão lugar, a 25, a dois triângulos em que as bases estão em baixo, harmonizando perfeitamente a relação entre governantes e governados, legitimada em eleições livres. E, sobretudo, dando origem a uma terceira forma, de contornos ainda por definir (será rectângulo? será quadrado?), mas já formada por um angulo de absoluta rectidão


O fim do salazarismo determinou a substituição da tranquilidade amorfa da ditadura pela mobilidade necessária à experiência democrática. Os portugueses exilados políticos, espalhados pelo mundo, reunem-se rapidamente e regressam a Lisboa para fazerem parte da reestruturação do País.

Surgem os partidos políticos à luz do dia, uns saídos da clandestinidade, outros a nascerem na madrugada de Abril. Mas todo livres. Livres e empenhados na defesa dos seus projectos, dando ao nosso destino o sentido da escolha que é indispensável à vida.
Neste quadro, as linhas rectas e sem consequências de 24 representam simbolicamente os exilados políticos portugueses espalhados por vários cantos do mundo, de onde regressaram para refazer o sonho de uma Pátria livre da ditadura. A 25, esses mesmos traços já têm acção, dando lugar ao aparecimento dos partidos políticos, alguns dos quais ainda com linhas a trazerem consigo reminiscências do 24, outros claramente inspirados nos valores nascidos do 24 para o 25 de Abril.

Mas todos a viver em harmonia democrática no mesmo espaço rosa-lilás de uma sociedade em busca do seu desenvolvimento mas a viver o seu sonho de liberdade.


A sociedade portuguesa, impedida de se manifestar livremente e incapaz de produzir no seu seio uma classe média com força suficiente para assumir decididamente a rebelião, empurra o exército para a situação última de árbitro, como corporização abstracta da Nação. Uma espécie de reserva moral de todos os que, sem armas, nada conseguem contra a força do regime. Os militares da Revolução de Abril apareceram assim como salvadores que deveriam protagonizar a mudança por que todos ansiavam.

Do lado dos heróis assim nascidos, o orgulho de uma farda foi o estandarte vivido por quem, até aí, era o símbolo da guerra e do entorpecimento do País.
Esta mudança - tanto por parte da população como por parte dos militares - enforma um novo relacionamento da sociedade consigo mesma, num processo de auto-expiação purificador e emocionalmente redentor.

Neste quadro, procurei estilizar uma divisa militar na qual as estrelas - que só numa segunda fase e após ponderação aderiram ao MFA - se representam por pontos, simples como os jovens entre os 25 e os 40 anos de idade que tiveram a ousadia e a coragem de desafiar e vencer o medo, derrubando um regime que a todos oprimia.

Uma divisa feita de três traços e três pontos por isso simples e abertos, como janelas que se abriram nas fardas dos militares de Abril.

Sem comentários: