domingo, 4 de março de 2007

Ciclo 4 Quartetos no CCB




Nos últimos anos, um vento de renovação passa pelo mundo das formações de câmara, designadamente em quarteto.

Seguindo o caminho desbravado por formações como o Kronos Quartet e o Arditti Quartet, um número crescente de jovens formações tem vindo a abordar o formato do concerto de câmara de maneira inovadora: ao repertório clássico, no qual bebem a sua formação, juntam outros programas, que vão do repertório erudito contemporâneo até músicas de diversas proveniências geográficas-culturais.
O CCB dará nas próximas temporadas atenção acrescida às experiências que se vêm desenvolvendo neste sentido, na Europa e nos Estados Unidos.

Nesta primeira série, apresentam-se quatro quartetos que se dedicam à construção de pontes musicais, visando transformar o concerto de câmara cada vez mais numa experiência singular.



II
Quarteto Danel


Sala Luís Freitas Branco
10 de Fevereiro, 21H00
Duração aproximada 1H15 (c/ intervalo)
Marc Danel primeiro violino
Gilles Millet segundo violino
Vlad Bogdanas viola
Guy Danel violoncelo


Programa:
Ludwig van Beethoven (1770-1827)
Quarteto Opus 59 n.º 3


Pascal Dusapin (1955-)
Quarteto n.º 5


Dmitri Schostakovich (1906-1975)
Quarteto n.° 9


Quarteto Danel


Sempre com o mesmo entusiasmo e convicção, o Quarteto Danel, premiado diversas vezes em concursos internacionais, prossegue os objectivos que determinaram a sua formação há quinze anos: o trabalho inesgotável de revelar o repertório de Haydn aos seus contemporâneos.
Com mais de oitenta concertos por ano, o Quarteto Danel já consolidou o seu lugar no meio artístico internacional.

Apresenta-se regularmente nas mais prestigiadas salas de concertos do mundo.
Se por um lado tem a preocupação de dar a conhecer obras “intemporais” de compositores de renome internacional, como é o caso da integral dos Quartetos de Cordas de Bartók, Beethoven ou Schostakovich, por outro estabelece colaborações e afinidades com compositores contemporâneos que se têm destacado, como Dusapin, Harvey, Lachenmann, Rihm, Volans… Muitos outros jovens autores, Bacri, Bosse, Brewaeys, Cassol, Defoort, d’Haene, Fafchamps, Honderdoes, Lampson, Mantovani, Mernier, Nelissen, Flender, Swinnen, Van der Harst, Zhang… a quem o Quarteto reconhece talento, são com frequência interpretados por esta formação.

Notas de Programa


Beethoven – Quarteto n.º 9 em Dó maior, Opus 59 n.º 3


Julga-se que o terceiro e último dos quartetos Razumovsky tenha sido composto em 1807, ou seja, antes dos dois primeiros.
Foram no entanto editados em simultâneo em 1808, pelo Comptoir des Arts et de l’Industrie, e posteriormente apresentados pela primeira vez em Janeiro de 1809, em Viena, pelo Quarteto Schuppanzigh. Dos três quartetos, o n.º 3, por vezes intitulado “Quarteto Heróico”, foi o único que agradou ao periódico Allgemeine Musikalische Zeitung que escreveu: “Deve agradar a todo o espírito culto pela sua melodia original e a sua harmonia poderosa.”
Foi igualmente a propósito dum esboço do final deste quarteto que se encontrou esta nota: “Mesmo que te encontres no turbilhão mundano, mesmo que consigas compor obras apesar de todos os entraves impostos pela sociedade, não guardes mais o segredo da tua surdez, mesmo na tua arte.”

Característica notável: pela primeira vez nos quartetos, Beethoven começa por uma introdução lenta, destinada a estabelecer um ambiente especial, ao mesmo tempo que incita o ouvinte ao recolhimento.

Esta será a regra para quase todos os últimos quartetos.


Pascal Dusapin – Quarteto n.º 5


Este quarteto foi escrito entre 2005 e 2006. Os intérpretes e admiradores da obra de Pascal Dusapin reconhecem que este compositor francês tem vindo a aveludar a sua escrita.

As suas primeiras obras revelam maior aspereza, uma característica reminiscente do seu professor, o compositor grego Iannis Xenakis.

Esta peça, à semelhança de outras mais recentes, revela um estilo mais lírico.

No entanto, esse lirismo vai-se sobrepondo a momentos mais angulosos e de maior rugosidade.
O compositor afirma ter deixado transparecer no Quarteto n.º 5 a sua admiração por Samuel Beckett.

A peça evoca as duas personagens do romance Mercier et Camier (1946) de Beckett, a sua primeira obra escrita em francês.

A peça começa com uma secção em pizzicato que serve de pano de fundo para um solo no primeiro violino.

Em seguida escutamos no segundo violino um solo em tom de resposta, sugerindo a ideia de um diálogo, possivelmente entre Mercier e Camier.

Esta ideia é reforçada ao longo da peça por uma constante alternância de discurso entre as combinações de instrumentos que vão surgindo.

Um pouco mais adiante, quando já estão decorridos cerca de dois terços da peça, uma longa secção em uníssono, em tom de sussurro, parece aludir à prática homónima na literatura contemporânea – a criação de texturas.


Schostakovich – Quarteto n.º 9 em Mi bemol maior, Opus 117


Escrito em menos de um mês, de 2 a 28 de Maio de 1964, o Opus 117 possui uma dimensão sonora mais próxima da música de câmara, sobretudo mais próxima da estética da 13.ª Sinfonia contemporânea, igualmente dividida em cinco movimentos.

As semelhanças, no Allegro, com alguns aspectos do Quarteto em Dó menor de Beethoven não são gratuitas.
Resta o carácter emocional desta partitura dedicada a Irina, a segunda mulher do compositor, com quem ele casou em 1962.

Este Quarteto foi apresentado em Novembro de 1964 na Petite Salle do conservatório de Moscovo, pelo Quarteto Beethoven.

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