sexta-feira, 23 de junho de 2006

Casa das Artes de Famalicão Apresenta Espectáculo de Dança Contemporânea

A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão apresenta nos próximos dias 23 e 24 de Junho, sexta-feira e sábado, pelas 22h00, no grande auditório, a peça "Orquéstica" da coreografa Tânia Carvalho.

Através desta peça Tânia Carvalho procura trabalhar a sensibilidade dos corpos tentando, através dos bailarinos, comunicar com o público e com a sensibilidade deste.

Segundo a crítica, o trabalho coreográfico que Tânia Carvalho desenvolve desde 1999 tem-se revelado como sendo um dos mais importantes da dança contemporânea portuguesa. A segurança, claridade e limpeza das suas propostas permite-lhe comunicar com o público de uma forma natural, orgânica, despretensiosa, honesta e onde elementos como a ironia e o sarcasmo são acompanhados de emoções primordiais como o amor, o desejo ou a ambição, entre outros.

Em "Orquéstica" passam pelo palco oito intérpretes, inclusive a própria Tânia Carvalho que comunica 100% coreograficamente, conseguindo um objecto puro, intenso, e profundamente humano.

A peça "Orquéstica" significa exactamente aquilo que a definição desta palavra (que caiu em desuso) quer dizer: a arte dos movimentos rítmicos do corpo; arte da dança. E é a base dessa ideia de regresso a algo intrínseco que torna este espectáculo num objecto contemporâneo e subtilmente nostálgico.




O esplendor do movimento... a materialização da existência... eu existo...

A luz está a ficar um pouco mais clara mas o céu continua carregado de nuvens. Carregado de forma a não se perceber a forma das mesmas. Todas juntas fazem uma grande placa de nuvem. Uma mancha. Uma cortina horizontal dentro das formas redondas da terra. Mas plana e horizontal aos nossos olhos que pouco alcançam afinal.

Apetecia-me explicar esta peça não só por palavras mas usar alguns sons, alguns gemidos e gestos, mas esses não os consigo escrever. Os nossos corpos são sensíveis. E é com isso que me interessa trabalhar. Usar o meu corpo que cria, o dos bailarinos que interpreta e o do público que recebe. E assim através da sensibilidade nos entendermos.

Quanto mais penso mais paro, para me voltar a mexer, para voltar a pensar. Tudo o que pensei fica lá para trás, mas faz falta para chegar onde cheguei. Digo (fica lá para trás) porque depois quando vejo, outra e outra vez, aquilo que fiz, já penso outra coisa.

Mesmo que nada aconteça, dançaremos em forma de sentimento "e para as lembranças, as impressões dos sentidos constituem um húmus mais profundo que os melhores sistemas e métodos de pensamento. Hermann Hesse, em "O jogo das contas de vidro".

Escrevo com muitas reticências mas só assim consigo. Faltam-me os sons, os gemidos e os gestos.


Tânia Carvalho

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