quinta-feira, 20 de julho de 2006

Festival Monsaraz Museu Aberto

A Cultura Popular como estratégia de desenvolvimento e de criação das identidades culturais
A “Cultura Popular: Estratégias de Desenvolvimento e Criação de Identidade” é o tema de um colóquio que vai decorrer no dia 29 de Julho, pelas 10:00 horas, na Igreja de Santiago, durante o festival Monsaraz Museu Aberto.

O Monsaraz Museu Aberto, que vai decorrer entre os dias 22 e 30 de Julho, é um festival de artes e artes do espectáculo, organizado pela Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz com periodicidade bienal, nesta edição dedicado à “Cultura Popular e Tradição Oral”.

O programa integra concertos com a fadista Mariza, a banda britânica Off The Wall – Tributo aos Pink Floyd, o maestro, compositor e interprete brasileiro Francis Hime, os alentejanos Vitorino e Janita Salomé, música cigana de Budapeste com Romano Drom, polifonias femininas da Sérvia com o cantar autêntico de Dinarke, o espectáculo que vai assinalar os 50 anos sobre a data em que D. Vicente da Câmara compôs o tema “A Moda das Tranças Pretas”, grupos corais, a representação equestre baseada na obra escrita do Conde de Monsaraz, um ciclo de cinema documental, exposições e muitos outros atractivos que fazem do Monsaraz Museu Aberto um festival de referência no país.

Os alentejanos Vitorino e Janita Salomé vão interpretar as melodias mais marcantes das suas carreiras musicais na abertura do Festival Monsaraz Museu Aberto, dia 22 de Julho, pelas 22:00 horas, no Castelo da vila medieval.
Um concerto onde vai predominar a música de raiz popular portuguesa, com especial destaque para as influencias do Cante Alentejano e Mediterrânico.
Pleno de cumplicidade estética e musical, neste espectáculo será feita uma homenagem a Zeca Afonso, grande mestre da musica contemporânea portuguesa, amigo e companheiro de canções destes dois cantores alentejanos.

O maestro, compositor e interprete brasileiro Francis Hime, encerra a sua curta digressão portuguesa de quatro espectáculos na segunda noite do Monsaraz Museu Aberto, dia 23 de Julho, pelas 22:00 horas, com a primeira parte a cargo de Nuno do Ó.
Francis Hime é um símbolo da excelência da Música Popular Brasileira, a síntese da união da música popular com a clássica que, pela sua singularidade, atingiu no Brasil, uma enorme popularidade.
Maestro, com formação em piano clássico, Francis Hime viveu alguns anos na Suíça, onde aperfeiçoou a sua técnica.
Na década de 60, afirma-se definitivamente no cenário musical ao compor, em parceria com artistas do porte de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, algumas das mais belas canções brasileiras da segunda metade do século XX.

Na segunda-feira, a partir das 22:00 horas, Monsaraz recebe a música cigana de Budapeste com Romano Drom.
O poder da sua música tradicional está nas vozes e nos jogos vocais, mas também na utilização da língua romena como língua mãe, reflectindo tanto a tradição como a modernidade da música cigana “oláh”.
O grupo Romano Drom, que significa "estrada cigana" em romeno, editou o primeiro álbum "Déta Dévla" na Hungria, em 1999, encontrando-se actualmente a preparar um novo disco para sair no Outono deste ano.
A música dos Romano Drom é caracterizada pela sua energia masculina e sinceridade, e é provavelmente o único grupo que teve sucesso na integração de uma instrumentalização poderosa, a qual nos dá um tipo de som nunca antes alcançado neste tipo de melodias com guitarras, percussões, acordeão e violino juntos.

A noite de terça-feira, dia 25 de Julho, será preenchida pelas polifonias femininas da Sérvia com o cantar autêntico de Dinarke.
Este quarteto feminino surgiu há três anos e baseia o seu trabalho na preservação e animação dos traços musicais tradicionais da parte Dinárica da Península Balcânica, concentrando-se principalmente na tradição musical sérvia.
As Dinarke têm como tarefa principal interpretar uma canção exactamente da mesma forma que a original, pois é assim que a voz autêntica tem sido preservada durante séculos, a voz que permanece para os descendentes. Do ponto de vista etno-musical, esta música vai desde os tons raros e por descobrir das altas áreas montanhosas (partes da Sérvia, Bósnia Herzegovina, Croácia e Montenegro) até ao bem conhecido cantar “on bass”, tipo de cantar que existe como uma herança cultural do oeste e é mais comum nos dias de hoje, envolvendo alguns elementos de culturas próximas.

O Festival Monsaraz Museu Aberto recebe na quarta-feira a banda britânica Off The Wall – A Tribute to Pink Floyd.
Este concerto, assumido como uma réplica dos espectáculos dos Pink Floyd, uma das bandas mais geniais de todos os tempos, impressiona pela qualidade visual pois a ideia passa por recriar o ambiente progressista e psicadélico proporcionado pela habitual grandiosidade das suas actuações.
Fumos, explosões de luz e pirotécnicas e projecções de imagens são alguns dos ingredientes do espectáculo que tem maravilhado plateias um pouco por todo o Mundo.
Ao tradicional jogo de luzes que sublinha as diferentes ambiências e cambiantes do espectáculo, somam-se uma série de efeitos especiais capazes de “encher o olho” do espectador.
O concerto de Monsaraz, aguardado com muita expectativa, vai passar em revista a carreira dos Pink Floyd desde os tempos de Syd Barret até ao último trabalho de originais do grupo (“Divison Bell”, de 1994), e é o único assegurado para Portugal até ao final do ano integrado na digressão mundial “Wish You Were Here ... Tour 2006”.
Os fãs dos Pink Floyd vão ouvir os grandes clássicos como “Fearless”, “Shine On you Crazy Diamond”, “Run Like Hell”, “What Do You Want From Me”, “Arnold Layne” (da pré-história da banda), mas também “Time”, “Money”, “Wish You Were Here”, “Another Brick in the Wall”, “Great Gig in the Sky” e “Confortably Numb”, entre muitos outros.

Também muito aguardado no Monsaraz Museu Aberto é o concerto de Mariza.
A fadista sobe ao palco do Castelo na noite de quinta-feira, dia 27 de Julho, para interpretar temas do seu último álbum “Transparente”, produzido por Jaques Morelenbaum e editado mundialmente em 2005, bem como aqueles que têm constituído assinalável êxito dos seus dois discos anteriores, "Fado em mim" e "Fado curvo".
O espectáculo de Monsaraz integra a tournée mundial “Transparente” 2005/2006”, que Mariza vem apresentando nos mais prestigiados recintos musicais de todo o mundo como o Carnegie Hall de Nova Iorque, o Royal Festival Hall em Londres, o Olympia de Paris, a Sydney Opera House, a Berlin Philarmonie ou o Hollywood Bowl em Los Angeles, tendo sido a única portuguesa a participar no Live 8, organizado por Bob Geldof.

O fado vai também preencher o festival Monsaraz Museu Aberto na sexta-feira. “A Moda das Tranças Pretas” é um espectáculo com Vicente da Câmara, José da Câmara, António Pinto Basto, Maria João Quadros, Teresa Siqueira, Carmo Rebelo de Andrade, Carlos Pegado, Manuel da Câmara e Rodrigo Pereira, idealizado para assinalar os 50 anos sobre a data em que D. Vicente da Câmara compôs aquele que seria o tema (A Moda das Tranças Pretas) mais emblemático da sua carreira e um dos fados mais apreciado pelo público português.
Neste espectáculo, D. Vicente da Câmara tem dois filhos a cantar – Manuel e José da Câmara – e também já dois netos – o Vicente e o João, este na guitarra portuguesa – para além de muitos amigos seus.

Os grupos corais não vão faltar no Monsaraz Museu Aberto, este ano justamente dedicado à “Cultura Popular e Tradição Oral”.

No sábado, a partir das 18:30 horas, no Adro da Igreja, vão actuar o Grupo Coral e EtnográficoOs Camponeses de Pias”, o Grupo Coral e EtnográficoVozes de Casével”, o Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, o Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Clube Recreativo do Feijó e o Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz.

O último dia do festival vai fechar com um espectáculo equestre inédito, baseado na obra escrita do Conde de Monsaraz e que retracta o Alentejo numa simbiose perfeita com o cavalo Lusitano.
Esta representação reúne os melhores cavaleiros da Equitação Tradicional Portuguesa, fadistas, declamadores, bailarinos, cantares tradicionais alentejanos, cavalos e touros, tudo isto enquadrado pelas muralhas da Praça do Castelo de Monsaraz e por um pano de fundo fantástico de som e luz.

No final do festival haverá o primeiro espectáculo de fogo de artifício desde o Grande Lago de Alqueva, que visto do alto de Monsaraz deverá ser inesquecível.

Antropólogos nacionais e estrangeiros vão discutir o papel da cultura popular e das práticas poético-musicais, como instrumento de uma estratégia de desenvolvimento e de criação das identidades culturais.
O colóquio inicia-se às 10 h com a sessão de abertura onde vão estar presentes Victor Martelo, Presidente da Câmara Municipal , José Nascimento, Delegado Regional da Cultura do Alentejo, e Jorge Nunes, Presidente da Junta de Freguesia.
Pelas 10:30 h começam os trabalhos com intervenções de Salwa El-Shawan Castelo Branco, Presidente do Instituto de Etnomusicologia da UNL, e Jorge Freitas Branco, Professor de História do ISCTE.
O painel da manhã fecha com a comunicação “recolhas etnográficas no Alentejo no contexto revolucionário”, por Luisa Tiago de Oliveira, Professora de História do ISCTE, seguida de debate.
Pelas 15:00 horas recomeçam os trabalhos com “A Convenção do Património Imaterial da UNESCO e o Património Oral da Região Histórica do Alentejo”, por Ana Paula Amendoeira, Câmara Municipal , e Paulo Lima, da Câmara Municipal de Portel.
A “Moda, uma associação para a valorização do cante alentejano” será a temática abordada por José Roque, da direcção da Moda – Associação do Cante Alentejano, enquanto Maria José Barriga, Investigadora do Instituto de Etnomusicologia da UNL vai falar sobre “O Baldão e a viola campaniça, a reinvenção de práticas no sul de Portugal”, ao que se seguirá o debate destes dois temas.
O painel da tarde continua com a comunicação sobre “O Festival de Maiorca e os talleres de improviso”, por Felip Munar i Munar, Director da Mostra de Improviso de Maiorca (Espanha), e a “Tradição e Diversidade Cultural: um projecto de revolução cultural”, por Tulio Monsalve, Director Geral do Centro Latino-americano Romulo Gallegos (República Bolivariana da Venezuela), encerrando-se o colóquio com o debate final.

A edição deste ano do festival Monsaraz Museu Aberto vai apresentar ao final de cada noite, sempre a partir das 23:30 horas, no Varadim da Cisterna, um Ciclo de Cinema Documental subordinado ao tema “Oralidades”.

Através deste ciclo de cinema pretende-se levar a Monsaraz uma selecção de documentários que abordam a oralidade e a cultura popular de várias perspectivas e geografias com interessantes incursões no espaço da lusofonia e dos mundos rural e urbano.

O primeiro documentário, dia 22 de Julho, é uma película de Pierre-Marie Goulet, de 1997, que se chama “Polifonias – Paci é Saluta Michel Giacometti” (82 min Portugal/Bélgica/França).
Este filme a várias vozes é uma homenagem a Michel Giacometti e vai ao encontro de culturas populares no passado e no presente, no Alentejo e na Córsega, para testemunhar trocas e partilhas onde ninguém perde a sua identidade ou as suas raízes, mas antes as reanima no contacto com o outro.

Na noite de domingo será apresentado o documentário “Alentejo Cantado”, do realizador Francisco Manso.
Este filme de média metragem sobre o Alentejo e os seus cantos tradicionais foi produzido para a RTP em co-produção com a Cobra Filmes (Bélgica) e exibido no Mercado de Cinema Documental de Marselha (1991) e no canal de televisão francês Muzzik (1998).

O Ciclo de Cinema Documental “Oralidades” leva segunda-feira ao Festival Monsaraz Museu Aberto, o filme “Mina dos Meus Amores” (30 min), realizado por José Luís Jones.
Um documentário baseado na história da Mina de S. Domingos através dos percursos de vida de ex-mineiros que após o encerramento da mina, partiram rumo a outras minas, acabando os três personagens envolvidos por se encontrarem na Holanda.
O filme é realizado em co-produção das televisões públicas NOS-RTP.

O realizador Flora Gomes apresenta na terça-feira o musical africano “Nha fala” (82 min Portugal/França/Luxemburgo), produzido em 2002.
Este documentário conta a história de Vita, uma jovem africana proibida de cantar devido a uma maldição ancestral que ameaça qualquer mulher da sua família que o faça.
Vita parte para Paris onde um músico a convence a gravar um CD, mas receosa que a mãe descubra, decide voltar para África onde encena a sua morte.

Na noite de quarta-feira, a sétima arte regressa com o filme “Gosto de ti como és” (60 min Portugal), realizado no ano passado por Silvia Firmino.
Este documentário acompanha uma família e a sua vivência num bairro de Lisboa durante todo o processo de preparação e apresentação da sua marcha popular.

Lisboetas” (100 min Portugal) é um documentário político realizado por Sérgio Tréfaut que será exibido na quinta-feira, dia 27 de Julho.
Este filme de 2004 mostra a vaga de imigração que nos últimos anos mudou Portugal.
O retracto de um momento único em que o país e a cidade entraram num processo de transformação irreversível, um filme que rejeita o habitual tratamento jornalístico e aborda a experiência humana dos imigrantes da grande Lisboa de um ponto de vista cinematográfico.

A noite de sexta-feira é preenchida com o documentário de 2005 “Aboio” (73 min Brasil), de Marilia Rocha.
A película passa-se no interior da caatinga mineira e pernambucana onde há homens que conservam hábitos arcaicos como o de tanger o gado por meio de um canto de vaqueiros: o Aboio.

O último filme do Ciclo de Cinema Documental “Oralidades” chama-se “No jardim do mundo” (64 min Portugal) e foi realizado por Maya Rosa, em 2004.
Na planície alentejana, sulcada por estradas novas, homens e mulheres, antigos trabalhadores agrícolas desfrutados pelos trabalhadores de antigamente, confidenciam quanto a vida deles mudou.
Lembram-se das condições de miséria às quais eram sujeitados antes do 25 de Abril quando só a fome, a poesia e o sol lhes pertenciam.

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