Ciclo Schostakovich no CCB
A 5 de Janeiro de 1944, Dmitri Schostakovich escreve numa carta a G. Molnar: “A música de câmara exige do compositor a mais perfeita das técnicas e a maior riqueza de pensamento. Não fujo à verdade se afirmar que, por vezes, por detrás do ‘brilho’ do som orquestral esconde-se a pobreza de pensamento.
Compor obras de música de câmara é significativamente mais difícil do que compor obras orquestrais… A pobreza de pensamento na música de câmara é simplesmente insuportável.”
No extraordinário mundo da música de Schostakovich, a obra de música de câmara tem um lugar de destaque, quer pela extensão quer pela qualidade e conteúdo artístico – estende-se por todo o seu diapasão temporal criativo, desde a juventude (Trio n.º 1, composto aos 16 anos) até à última obra (Sonata para Viola e Piano composta em 1975, ano da sua morte) e reflecte praticamente todo o seu espectro ideológico-temático.
Schostakovich, na sua produção de música de câmara, seguiu a linha clássica de desenvolvimento deste género, compondo música de câmara instrumental com piano (onde se incluem os Trios n.º 1 e n.º 2 para Piano, Violino e Violoncelo, o Quinteto para Piano, dois Violinos, Viola e Violoncelo, a Sonata para Violoncelo e Piano, a Sonata para Violino e Piano e a Sonata para Viola e Piano), música de câmara instrumental sem piano com a grande contribuição na esfera do quarteto de cordas (15 obras-primas) e ainda a extensa e admirável música vocal com piano.
Juntamente com a sua obra pianística, a obra de música de câmara, apesar de amplamente interpretada ao longo da sua vida, manteve-se como o reduto de toda a sua pujança e liberdade artísticas.
Revela-se como essencial na sua herança criativa e reflecte a sua verdade artística: autenticidade e humanismo.
Apesar de estarem hoje incluídas no grande repertório internacional, as obras de música de câmara de Schostakovich permaneceram durante muito tempo na sombra das suas “sinfonias de actualidade”.
São obras que exigem aos intérpretes um apurado realismo sonoro e profundidade espiritual.
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