"A Mata" no Novo Teatro Municiapl de Almada a partir de 5 de Julho
A Mata é uma jornada tocante nas memórias reprimidas de um grupo de crianças que cresceram na mesma vizinhança e onde uma delas desaparece. Ao mesmo tempo, a estrutura da peça assemelha-se a um mistério sobre um crime que mantém os espectadores em suspenso até ao fim. O possível abuso e o assassinato de uma rapariga pequena só se revela gradualmente. Este mistério não é totalmente esclarecido. Os espectadores esperam respostas no final, mas o caso não é resolvido, nem o assassino travado. A peça centra-se no bairro, nas crianças que vivem lado a lado. Como reagem aos vários acontecimentos, como sentem uma ameaça, sem, no entanto, a perceberem claramente. E, claro, como estas crianças conseguir lidar (ultrapassar ou reprimir) o facto.
Material para uma peça policial. Trata-se do abuso de uma criança, talvez um assassínio. A floresta pode ter sido o local onde este ocorreu, mas será, de qualquer das formas, o local metafórico da ocultação, da história perversa. Mas aquilo que, num verdadeiro policial, permite solucionar o enigma é escondido no palco, transformando-se em jogo de aventuras com impacto psicoterapêutico.
A Mata de Jesper Halle é uma história cruel e poética sobre a infância, relacionada em vários aspectos com o universo de David Lynch.
Como encenadora, atrai-me que a peça combine humor, um forte sentido de humanidade com uma ambiência negra. Jesper Halle foi primeiro bem sucedido na área da comédia, sketches para televisão e escrita satírica, bem como na escrita para audiências jovens. Enquanto fazia estes trabalhos, começou a explorar realidades mais negras relaciononadas com abusos, doenças mentais e morte. As suas peças mais negras evoluíram no tempo de perturbantes, mas de alguma forma não resolvidas (The Lover inthe Woods), a mágicas (Wild Ducks) até A Mata, que na minha opinião é uma peça perfeita. É a primeira peça que combina totalmente o seu amor, sem comprometimentos, pelo lado mais negro da natureza humana com o seu sentido de humor preciso e caloroso.
O universo das crianças é, em muitos aspectos, parecido com o do circo – os jogos brincados pelas crianças encontram paralelo no universo circense. A Mata pode ser montado com sucesso em vários níveis de interpretação – e o circo é com certeza um deles.
A minha visão é a de uma performance de conjunto onde os elementos circenses estão integrados nas situações cénicas e na dramaturgia da peça. O elemento retrospectivo da peça, expresso nas vagas memórias dos adultos, irá delicadamente enquadrar a performance através da escolha de diferentes actores para representar as personagens adultas e as personagens criança.
Franzisca Aarflot
Ficha Técnica
A MATA de Jesper Halle
Tradução Pedro Porto Fernandes
Com António Simão, Armando Luís, Bernardo Chatillon, Carla Galvão, Cecília Henriques, Flávia Araújo, Jéssica Anne, João Delgado, Leogizy Mary Gaspar, Maria João Pinho, Pablo Malter, Paulo Pinto, Pedro Carraca, Ricardo Batista, Ricardo Carolo, Rúdy Fernandes, Sandra Roque, Sara Moura, Sérgio Conceição e Tinto
Cenografia Inger Astrid Kobbevik Stephens
Montagem Daniel Fernandes com o apoio de Rita Lopes Alves
Figurinos Rita Lopes Alves Luz Pedro Domingos
Cenografia e Figurinos com o apoio de Joaquim Ramalho e Filipe Faísca e dos alunos de Ofícios do Segundo Ano do Chapitô – Ana Duarte, Carla Piedade, Cláudia Fiúza, Joana Estrela, João Leal, Katty Barbosa, Luís Castro e Vera Petinga
Encenação Franzisca Aarflot assistida por Andreia Bento, João Meireles, Ricardo Carolo, Pedro Carraca e António Simão
Uma produção Artistas Unidos / Det Åpne Teater / Chapitô - integrada no Festival de Almada 2006 e com o apoio da Real Embaixada da Noruega
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