quinta-feira, 18 de maio de 2006

Teatro O bando Estreia Grão de Bico



Baseado num conto de tradição oral, que de Palmela a Além Tejo nos revela inúmeras versões, este grão de bico é recriado num ambiente intimista, no qual o multimédia estabelece a ponte para lá do (in)visível, entre o espectador e a sua imaginação.

Quando nos aproximamos visualmente de algo os detalhes tornam-se mundos.

E são esses mundos feitos de grandes detalhes microscópicos que nos ajudam a narrar a pequena história de um grande herói, uma história na qual o corpo se torna universo e o espectador viajante.


Actualmente a casa do Teatro o bando está situada na encosta de um vale largo e aberto.
O Vale dos Barris confina na Serra do Louro e do alto deste monte avista-se uma extensa planície limitada ao longe pela cidade de Lisboa.
No contorno do horizonte ainda podemos adivinhar a Serra de Sintra.
Tudo isto parece a pele de um corpo imenso habitado por minúsculos seres vivos.
Vemos o rio Tejo, os carros, as casas, as pontes, mas, realmente, não avistamos ninguém. Sabemos que andam por ali milhares de pessoas irrequietas mas não as vemos.
Lá no alto, os nossos passos pisam vestígios de muros e de paredes de pedra com mais de mil anos de idade.
Os nossos olhos, agora levantados, contemplam as crostas dos campos ressequidos, os sulcos, os telhados, as árvores.
São as texturas da pele de uma Terra ora rugosa e espessa, ora húmida e delicada.
São as rugas e as borbulhas de um corpo imenso, quase sempre, aparentemente, em repouso.
É um ser vivo dormente que cumpre um movimento tão imperceptível que nem a vida inteira de uma pessoa dá para nele reparar.
Às vezes assusta-nos quando acorda e estremece.

O cenário deste espectáculo, a que chamámos GRÃO DE BICO é também ele o território sugestionável do corpo vibrante de um actor.
Nesta inesperada paisagem habita um ser que ninguém vê mas que respira afogueado quando corre.
Ainda que sem referência visível, reconstituímos mentalmente a imagem de um pequenino ser irrequieto e endiabrado que caminha por entre os poros e os pelos de uma pele tépida e trepidante.
Será possível que o invisível construa as mais inverosímeis e desconcertantes imagens mentais e que aquela espécie de sonhar acordado desenhe na cara de cada um, o sorriso inominável de quem esqueceu por momentos as labutas insignificantes de uma vida precipitada?
A engrenagem dramatúrgica e a versatilidade do dispositivo cénico foram revelando tais potencialidades que decidimos perspectivar a realização de uma trilogia baseada em contos da tradição oral.

Agora, com o Luca Aprea e a Teresa Lima, o espectáculo define-se a partir de um invisível ponto de partida.
No próximo ano, o ponto vai mexer, vai adquirir movimento, ganhar velocidade, traçar a linha de uma viagem imprevisível, com Madalena Victorino a associar ao desenho do carvão, a dança dos gestos.
Depois a linha vai riscar o mapa e traçar o plano da estação que um fotógrafo e um cineasta deverão conceber no quadro de outra criação teatral.
Ainda vejo a Natércia a rir com as peripécias bem humoradas dos actores nos primeiros ensaios. Ela dizia que era a primeira vez que o protagonista da história era um personagem que nunca se via.
Recentemente ao ouvir o vôvô Mahuai contar algumas histórias de Moçambique percebemos melhor a importância da tradição oral na construção das referências que deviam melhor balizar a caminhada dos que habitam e circulam sobre a crosta degradada desta Terra tão vulnerável. Pareciam-nos demasiado primárias as conclusões morais das histórias antigas que nos contavam.
Afinal é cada vez mais evidente que elas constituem as mais belas e elementares regras de convivência.
Será possível contar teatralmente as peripécias de uma aventura que intrigue meninos de três anos e homens e mulheres, mais novos e mais velhos, com idêntica e saborosa cumplicidade?

João Brites


20 de Maio - Estreia
Teatro o bando
Vale dos Barris - Palmela
Sábados às 21h30 domingos às 17h00
Português, M/3 anos
Informações e reservas: 21 233 68 50
Co - Produção com Centro Cultural de Belém e Centro Cultural Vale Flor

Bilhetes :
. público em geral: 10 €, 8€ ou 6€ (neste caso é o espectador que escolhe um dos 3 preços)
. crianças até aos 10 anos, estudantes e profissionais de teatro: 5 €

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